Arte Serrinha

Serrinha

O verdadeiro mundo é arte.

A arte é o desconhecido. Ela sussurra nossa pertença ao ser, celebra a vida. Assim a arte quer ser vivida: como algo que não deveria cessar nunca.

Mas ela cessa. E ficamos com o problema de saber como viver quando a arte acaba.

Feito um regador, o Festival de Arte Serrinha equacionou a questão da vida após a morte da arte borrifando arte nas coisas da vida.

O festival nasceu da inquietação sobre os rumos de uma região que vive um processo acelerado e desorganizado de transformação; da motivação de reconstituir o espaço natural e fortalecer as relações entre as pessoas e o ambiente. E, feito tudo isso, produzir reverberações positivas – independentemente da escala que elas alcancem.

O núcleo irradiador de todos os acontecimentos se divide entre a Fazenda Serrinha e o Sítio Santo Antônio, onde funciona o Galpão Busca Vida, ambos no bairro da Serrinha, zona rural de Bragança Paulista, São Paulo. Espaços vizinhos e irmãos, todos os anos, por um mês durante o inverno – período em que a natureza se recolhe, preparando a reinvenção –, abraçam, acolhem e iluminam toda a gente que chega de fora, convidando-a a experimentar.

Assim como as sementes, que vêm e vão levadas pelo vento e pelos animais, ou são deliberadamente espalhadas pelo ser humano, e, ao se fixar, participam da recriação do mundo, na Serrinha a arte em todas as suas expressões é incubada e processada, retornando na forma de novas e belas harmonias.

Uma floresta devastada só voltará à sua condição inicial de abundância caso a terra que um dia ocupou deixe de ser perturbada. De forma análoga, acontecendo no campo, retirado da correria da vida na cidade, o festival proporciona uma pausa na rotina contemporânea – um silêncio criativo – e um mergulho em busca de valores essenciais. Sem interferências, sem perturbações, a Serrinha abre-se para a criação.

Trata-se de um laboratório aberto a experiências artísticas que têm na natureza a matéria principal, uma obra em contínuo processo de construção – nas oficinas, nos debates, nos encontros informais, nos períodos de residência artística –, em que se estimulam a produção e as múltiplas possibilidades de interação entre as artes, e delas com a paisagem.

Transforma-se o espaço, mudam as pessoas – e o mundo. Em uma década de festival, o alcance físico parece pequeno, mas o eco é profundo. As gotas borrifadas pelo regador da Serrinha evaporam e voltam como o orvalho, renovando nosso alívio a cada dia. Aqui se descobre o que é evidente, embora não sem espanto: que a vida é arte.

site: www.festivaldearteserrinha.com.br .

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