Símbolo da memória histórica do Brasil, o Museu Mariano Procópio, um dos marcos do pioneirismo da cidade de Juiz de Fora, é resultado da obstinação do colecionador Alfredo Ferreira Lage (1865/1944), que dedicou sua vida à formação de um dos mais significativos acervos artísticos, históricos e de ciências naturais do país. Aberto à visitação pública em 1915, o Museu Mariano Procópio só foi oficialmente inaugurado no dia 23 de junho de 1921. A data foi especialmente escolhida por seu fundador para celebrar o centenário de nascimento de seu pai, o comendador Mariano Procópio Ferreira Lage (1821/1872), idealizador e empreendedor da primeira estrada de rodagem macadamizada do Brasil, a “Rodovia União e Indústria”, ligando Petrópolis a Juiz de Fora, que foi inaugurada naquele dia e mês do ano de 1861, com a presença do imperador Pedro II e sua família, importantes políticos e convidados da corte.
Inicialmente o Museu ocupou o prédio hoje denominado Villa Ferreira Lage, erguido por Mariano Procópio em sua chácara, revelando-se uma obra de arte em estilo neo-renascentista, cujo projeto é de autoria do arquiteto alemão Carlos Augusto Gambs. Esta obra prima está situada no alto do Parque Mariano Procópio. Quanto ao parque, que valoriza a flora exótica e brasileira, atualmente com 78.240 m², é atribuído ao francês Auguste François Marie Glaziou, conhecido por outros importantes projetos de jardins brasileiros, entre os quais a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O naturalista suíço Jean Louis Rodolphe Agassiz (1807/1873), surpreendeu-se em sua visita e disse que a chácara de Mariano Procópio se tornaria o “Paraíso dos Trópicos” como relatou em seu livro “Viagem ao Brasil – 1865 – 1866”.
A ampliação do acervo de Alfredo Ferreira Lage levou à construção de um anexo à Villa, o Prédio Mariano Procópio, inaugurado em 13 de maio de 1922. Trata-se da primeira edificação brasileira construída com finalidade de ser museu. O planejamento de arte é de Rodolpho Bernardelli.
Como havia anunciado em 1921, Alfredo Ferreira Lage formalizou a doação do Museu, seu acervo e seu parque ao Município, sem nada exigir para si, nem para seus herdeiros, em 29 de fevereiro de 1936. Para o fiel cumprimento da doação, criou o Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio, que vem atuando como guardião da instituição.
ACERVO
O acervo constituído com cerca de 53 mil objetos de valor histórico, artístico e científico, faz do Museu Mariano Procópio um dos mais importantes núcleos de saber do país. Trata-se de uma coleção nacional e de relevância internacional, entre pinturas, esculturas, gravuras, desenhos, livros raros, documentos, fotografias, mobiliário, prataria, armaria, numismática, cartofilia, indumentária, porcelanas, cristais e peças de História Natural .
Obras de expoentes da pintura européia, como os franceses Charles François Daubigny (1817/1878) e Jean Honoré Fragonard (1732/1806) e o holandês Willem Roelofs (1822/1897) são destaques no acervo ao lado de trabalhos de brasileiros como Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843/1905), Rodolfo Amoedo (1857/1941) e Belmiro de Almeida (1858/1935). Esculturas e moldes de gesso, principalmente do século XIX, também projetam o acervo, reunindo obras de artistas como Clodion, Marius Jean Mercié, Rodolfo Bernardelli, Modestino Kanto e José Otávio Correia Lima.
O Império brasileiro é um dos destaques do acervo. Os trajes da coroação, da maioridade e do casamento de D. Pedro II e o traje de corte da Princesa Isabel estão entre as mais significativas peças da indumentária da instituição. O acervo de mobiliário é considerado um dos mais importantes do país, destacando-se pela coleção de peças a partir do século XVI até o século XIX, estas, em grande parte, adquiridas do Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
A doação de Amélia Machado Cavalcanti de Albuquerque (1853-1946), a Viscondessa de Cavalcanti, ao setor de numismática, abrange desde moedas greco-romanas estampando a efígie do imperador Júlio César, até raras medalhas européias. O Museu Mariano Procópio guarda, ainda, parte da história da armaria, com destaque para um punhal do século XVI, com bainha em marfim, veludo e aço, que pertenceu ao Rei Francisco I (1515/1547), da França, e um Polvorinho de marfim, que pertenceu ao rei Augusto Sigismundo II (1548/1572), da Polônia.
Reabrir o Museu Mariano Procópio à visitação pública é proporcionar o resgate da essência cultural, artística e histórica do Brasil. Parte da vida colonial brasileira e do período imperial faz do acervo do primeiro museu de Minas Gerais, um dos mais instigantes e diversificados do país.